segunda-feira, 30 de maio de 2016

Semiótica de Peirce

    Ao falar de semiótica é fundamental entender antecipadamente sobre linguagem em sua concepção geral. Linguagem é a capacidade de nos comunicar e essa comunicação se dá através de toda e qualquer forma de expressão. Dentro desta “toda e qualquer forma” conseguimos encontrar os signos.


Os signos são elementos representativos em comum entre o locutor e o receptor (escrita, fala, imagens, sons, performance corporal e etc.), ou seja, é tudo que nos faz lembrar de algo e que é perceptível aos nossos sentidos. Para Lúcia Santanella, signo é “coisa que representa outra coisa”.


O signo é o elemento de estudo da semiótica visualizado por ela como fenômenos. A semiótica em sua definição é a ciência que estuda os signos, ou seja, a ciência geral de todas as linguagens estudando os meios pelo qual o homem se comunica. Ela nos ajuda a ler o mundo, compreendendo a realidade a nossa volta através de todas as formas de comunicação.


Pierce, um estudioso e filho de estudiosos dedicou-se à semiótica, que hoje leva seu nome, definindo o signo como triádico, constituído de três partes:

  • Representamen: é a face do signo imediatamente perceptível, fazendo parte da primeiridade. 
  • Objeto: é a experiência, o existencial. É a fase que o interpretante envia o signo em um processo de semiose (= significação). 
  • Interpretante: é o signo mediador do pensamento terceiridade. Uma síntese intelectual correspondente a camada da inteligibilidade de pensamentos em signos. Ou seja, é o que é criado na mente daquele que observa o signo, o significado do representado. 




Ø ICONICIDADE/PRIMEIRIDADE: sentido literal das palavras.


Ø SECUNDIDADE: Relações contextuais.


Ø TERCEIRIDADE: Significação real/sentido do texto.



Além disso, Pierce estudou as relações entre objeto e interpretante e a chamou de tricotomia. Ela é conhecida como a relação entre o signo com o objeto determinado que o signo pode ser:

Ø Ícone: Relação de lembrança. Ex: Nuvens em formato de coelhinho me recordam o animal ou algo relacionado a ele.

Ø Índice: O signo tem relação direta com o objeto. Indica algo que aconteceu ou vai acontecer. 

Ex: Pegadas na areia indicam que alguém passou por ali.

Ø Símbolo: Signo tem uma relação convencionada ao objeto retratado.


Assista o vídeo a seguir que explica de forma sucinta a Semiótica de Peirce. 


Obs.: O video não é de nossa autoria.

Coesão e Coerência

 Para que um texto tenha o seu sentido completo, ou seja, transmita a mensagem pretendida, é necessário que esteja coerente e coeso. Para compreender um pouco melhor os conceitos de coerência textual e de coesão textual, e também para distingui-los, vejamos:
                                  

                                   
  O que é coesão textual?

Quando falamos de coesão textual, falamos a respeito dos mecanismos lingüísticos que permitem uma sequência lógico-semântica entre as partes de um texto, sejam elas palavras, frases, parágrafos, etc. Entre os elementos que garantem a coesão de um texto, vejamos:

  As referências e as reiterações:

Este tipo de coesão acontece quando um termo faz referência a outro dentro do texto. Quando reitera algo que já foi dito antes ou quando uma palavra é substituída por outra que possui com ela alguma relação semântica. Alguns destes termos só podem ser compreendidos mediante estas relações com outros termos do texto, como é o caso da anáfora e da catáfora.
São chamados de pronomes anafóricos aqueles que estabelecem uma referência dependente com um termo antecedente, é uma palavra herdada do grego “anaphorá” e do latim “anaphora”. Designa-se ANÁFORA (não confundir com a figura de linguagem de mesmo nome) o termo ou expressão que, em um texto ou discurso, faz referência direta ou indireta a um termo anterior. O termo anafórico retoma um termo anterior, total ou parcialmente, de modo que, para compreendê-lo dependemos do termo antecedente.
Exemplos:

Ana comprou um cão. O animal já conhece todos os cantos da casa.
(O termo “o animal” faz referência ao termo antecedente “o cão”)

A sala de aula está degradada. As carteiras estão todas riscadas.
(O termo “as carteiras” é compreendido mediante a compreensão do termo anterior “sala de aula”)

Por sua vez, os pronomes catafóricos são aqueles que fazem referência a um termo subseqüente, estabelecendo com ele uma relação não autônoma, portanto, dependente. Para compreender um termo catafórico é necessário interpretar o termo ao qual faz referência.

Exemplos:
A irmã olhou-o e disse: - João estás com um ar cansado.
(O pronome “o” faz referência ao termo subsequente “João”, de modo que só se pode compreender a quem o pronome se refere quando se chega ao termo de referência.)

As substituições lexicais (elementos que fazem a coesão lexical):

Este tipo de coesão acontece quando um termo é substituído por outro dentro do texto, estabelecendo com ele uma relação de sinonímia, antonímia, hiponímia ou hiperonímia, ou mesmo quando há repetição da mesma unidade lexical (mesma palavra).

Os conectores (elementos que fazem a coesão interfásica):

Estes elementos coesivos estabelecem as relações de dependência e ligação entre os termos, ou seja, são conjunções, preposições e advérbios conectivos.

 A correlação dos verbos (coesão temporal e aspectual):

Consiste na correta utilização dos tempos verbais, ordenando assim os acontecimentos de uma forma lógica e linear, que irá permitir a compreensão da sequência dos mesmos.



O que é coerência textual?

   Quando falamos em COERÊNCIA textual, falamos acerca da significação do texto, e não mais dos elementos estruturais que o compõem. Um texto pode estar perfeitamente coeso, porém incoerente. É o caso do exemplo abaixo:

" As ruas estão molhadas porque não choveu"

Podemos entender melhor a coerência compreendendo os seus 4 princípios básicos:

Princípio da Não Contradição: 
Em um texto são se pode ter situações ou idéias que se contradizem entre si, ou seja, que quebram a lógica.

A Continuidade: 
Diz respeito à necessária retomada de elementos no decorrer do texto. Retomada de conceitos, de ideias.

 Progressão: é preciso que o texto apresente novas informações a propósito dos elementos retomados. São esses acréscimos semânticos que fazem o sentido do texto progredir.

A Articulação: Refere-se à maneira como os fatos e conceitos apresentados no texto se encadeiam como se organizam em relação aos outros.




  • Recomendações para garantir a coesão:

- Estruture o texto numa sequência lógica;

- Estabeleça frases e entre os parágrafos;

- Faça uma revisão do texto: se houver necessidade, remanipule suas partes para tornar o conjunto inteligível;


1. Apresentar a ideia.

2. Argumentar, explicar, exemplificar.

3. Concluir.

Semiótica Greimasiana

A Teoria Semiótica preocupa-se em entender o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz. Segundo Fiorin, os textos são narrativas complexas e neles uma série de enunciados de fazer  e de  ser  estão organizados hierarquicamente estruturando-se numa sequência canônica que compreende quatro fases:

1.    Manipulação: Consiste em uma personagem induzir a outra a fazer alguma coisa.
 O manipulador pode usar as seguintes formas de manipulação:
 Tentação: Oferecer algo a personagem.
 Intimidação: Intimidar a personagem impondo algo.
 Sedução: Exaltar o ego através de elogios.
 Provocação: Provocar o personagem ao ponto de levá-lo a fazer a ação.

2.    Competência: Fase que o sujeito do fazer adquire um saber e um poder.

3.    Performance: É a própria ação, executada pelo sujeito manipulado.Nesta fase há sempre uma relação de perda e ganho.

4.    Sanção: O sujeito do fazer irá receber um castigo ou uma recompensa da ação feita.  

            Para ficar mais clara a teoria Greimasiana, exemplificaremos as quatro fases com base no texto "A Princesa e o Dragão":

                                         A princesa e o Dragão 
          A filha do rei era muito bela. Certo dia um dragão raptou-a, levando-a para sua caverna. Desolado, o rei, já avançado em anos, recorreu a um príncipe, generoso e forte e lhe delega a incumbência de libertar a filha. No dorso de impetuoso cavalo, sai o príncipe com pressa de resgatar a princesa.
           No caminho, uma velha maltrapilha, sentindo-se perdida, roga ao príncipe que a leve de volta para casa. Movido pela bondade do coração, ainda que angustiado pela pressa, o príncipe desvia-se do caminho e conduz a pobre velha ao lar. Eis que, ante os olhos surpresos do príncipe, a velha revela-se como uma bela fada de aves transluzentes. Enaltecendo a generosidade do caráter do heroico cavaleiro, indica a caverna do dragão, presenteia-o com reluzente espada de ouro advertindo-o de que somente com aquele instrumento conseguiria cortar a cabeça do dragão. Junto com a espada, a bondosa fada lhe dá uma ânfora de prata, cheia de uma poção capaz de torná-lo invisível.
         Seguindo as indicações da fada, o príncipe atravessa a floresta povoada de perigosas feras e, sem ser visto, penetra na caverna do dragão, decapitando–o com um só golpe de espada.
          Salva a bela princesa, o generoso cavaleiro devolve–a para o rei, que, reconhecido, dá-lhe a mão da princesa e faz dele seu sucessor.
           A manipulação ocorre no primeiro parágrafo, onde o Rei apela para a generosidade do cavaleiro e lhe atribui o dever de salvar sua filha. De forma muito inteligente o Rei consegue induzir o cavaleiro a fazer o que ele queria, pois, conhecendo seu caráter generoso sabia que ele não recusaria o pedido.
          Em seguida, no segundo parágrafo, o cavaleiro ao ajudar a fada, consegue adquirir a competência necessária para realizar sua ação, a fada diz o local da caverna e lhe presenteia com uma espada de ouro, aqui, ele adquire o saber e o poder.
          Ao decapitar e libertar a princesa, executando de fato o que queria fazer, o cavaleiro realiza a performance.
        Salvando e entregando a princesa ao rei, recebe uma boa recompensa, a mão da princesa e ainda se torna o sucessor do rei, nessa parte da história acorre a sanção

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Primeira postagem do Blog

Linguística Textual

A linguística textual analisa os fatores linguísticos e pragmáticos do texto, sendo eles: intencionalidade, informatividade, intertextualidade, situcionalidade e aceitabilidade.

  Intencionalidade: está relacionada ao autor (objetivo ao escrever).

   Aceitabilidade: é a cooperação com os objetivos.

  Informatividade: são informações que o leitor consegue prever e as imprevisíveis.

 Intertextualidade: presença de um texto dentro de outro texto, Ex: A música “Monte Castelo” da banda Legião Urbana cita a passagem bíblica de I Coríntios 13: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o signo que tine...”.

 Situcionalidade: época, quando, onde, local. Contexto socioeconômico -> autor/leitor.

     Apartir do texto a seguir de Rubem Braga, faremos a análise sob o ponto de vista da Linguística Textual.

Recado ao senhor 903 - Rubem Braga

 Vizinho – Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor teria ainda ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio. Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela”. E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

Análise

  Será feita a análise do presente texto sob o ponto de vista da Linguística textual, abordando os fatores pragmáticos: intencionalidade, informatividade, intertextualidade, situacionalidade e aceitabilidade.
   Em relação ao fator intencionalidade, pode-se afirmar que o texto do Rubem Braga pretende emocionar e levar o leitor a refletir sobre a relação de humanização que deveria existir entre as pessoas, no trecho “ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros” identificamos como nossas relações com as outras pessoas estão cada vez mais impessoais e distante.
    A informatividade contida no texto é previsível até a palavra “silêncio”, pois não há nada que nos impressione até este ponto, porém, a partir da conjunção adversativa o autor apresenta uma informação imprevisível ao expor uma ideia totalmente contraria a realidade, a presença de informações previsíveis e imprevisíveis feitos por Rubem levam o texto a ter um bom grau de informatividade.
   Em seguida encontramos a intertextualidade, por exemplo, na frase “Come de meu pão e bebe de meu vinho” originalmente escrito na Bíblia.
   A situacionalidade da crônica do Rubem Braga encontra-se na coleção do livro “Para gostar de ler”.
  Há aceitabilidade da parte do leitor, pois é um texto de fácil compreensão, o receptor dessa forma consegue colaborar com o objetivo de seu produtor.
   Portanto a linguística deu conta de analisar o texto. 



Ferdinand Saussure
                         
Considerado como pai da Linguística, Ferdinand Saussare  (1857 – 1913), neto do botânico Nicolás Théodore de Saussare e bisneto do naturalista Horace Bénedict de Saussare, investigou a construção lógica da linguagem. Professor de línguas Indo – Européias e Sânscrito em Genebra desde 1891. As ideias póstumas de Saussare são consideradas como um divisor de águas no estudo científico da linguagem; ao considerar a língua como sistema bem organizado. Estabeleceu ainda a distinção entre métodos de investigação sincrônicas, que estudam a língua num determinado ponto de sua evolução, e diacrônicas, que a analisam no percurso da história. Definiu o signo linguístico como a união da forma física ou “significante” com a imagem psíquica ou “significado”.