quinta-feira, 19 de maio de 2016

Primeira postagem do Blog

Linguística Textual

A linguística textual analisa os fatores linguísticos e pragmáticos do texto, sendo eles: intencionalidade, informatividade, intertextualidade, situcionalidade e aceitabilidade.

  Intencionalidade: está relacionada ao autor (objetivo ao escrever).

   Aceitabilidade: é a cooperação com os objetivos.

  Informatividade: são informações que o leitor consegue prever e as imprevisíveis.

 Intertextualidade: presença de um texto dentro de outro texto, Ex: A música “Monte Castelo” da banda Legião Urbana cita a passagem bíblica de I Coríntios 13: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o signo que tine...”.

 Situcionalidade: época, quando, onde, local. Contexto socioeconômico -> autor/leitor.

     Apartir do texto a seguir de Rubem Braga, faremos a análise sob o ponto de vista da Linguística Textual.

Recado ao senhor 903 - Rubem Braga

 Vizinho – Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor teria ainda ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio. Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela”. E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

Análise

  Será feita a análise do presente texto sob o ponto de vista da Linguística textual, abordando os fatores pragmáticos: intencionalidade, informatividade, intertextualidade, situacionalidade e aceitabilidade.
   Em relação ao fator intencionalidade, pode-se afirmar que o texto do Rubem Braga pretende emocionar e levar o leitor a refletir sobre a relação de humanização que deveria existir entre as pessoas, no trecho “ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros” identificamos como nossas relações com as outras pessoas estão cada vez mais impessoais e distante.
    A informatividade contida no texto é previsível até a palavra “silêncio”, pois não há nada que nos impressione até este ponto, porém, a partir da conjunção adversativa o autor apresenta uma informação imprevisível ao expor uma ideia totalmente contraria a realidade, a presença de informações previsíveis e imprevisíveis feitos por Rubem levam o texto a ter um bom grau de informatividade.
   Em seguida encontramos a intertextualidade, por exemplo, na frase “Come de meu pão e bebe de meu vinho” originalmente escrito na Bíblia.
   A situacionalidade da crônica do Rubem Braga encontra-se na coleção do livro “Para gostar de ler”.
  Há aceitabilidade da parte do leitor, pois é um texto de fácil compreensão, o receptor dessa forma consegue colaborar com o objetivo de seu produtor.
   Portanto a linguística deu conta de analisar o texto. 



Ferdinand Saussure
                         
Considerado como pai da Linguística, Ferdinand Saussare  (1857 – 1913), neto do botânico Nicolás Théodore de Saussare e bisneto do naturalista Horace Bénedict de Saussare, investigou a construção lógica da linguagem. Professor de línguas Indo – Européias e Sânscrito em Genebra desde 1891. As ideias póstumas de Saussare são consideradas como um divisor de águas no estudo científico da linguagem; ao considerar a língua como sistema bem organizado. Estabeleceu ainda a distinção entre métodos de investigação sincrônicas, que estudam a língua num determinado ponto de sua evolução, e diacrônicas, que a analisam no percurso da história. Definiu o signo linguístico como a união da forma física ou “significante” com a imagem psíquica ou “significado”.


9 comentários: